quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A PRIMEIRA VEZ DE SOPHIA




  Sophia estava voltando para casa. Aquela fora uma noite e tanto! A noite de sua primeira vez. 
  Ela estava cansada. Ia caminhando sozinha por aquela rua escura. Era noite e saíra escondida. Seus pais nem desconfiavam. Dormiam como pedras, os coitadinhos! 

  Apesar de ter apenas 15 anos, havia se preparado muito para aquele momento. Desde muito nova já sentia as vontades, mas somente aos 14 anos passou a sonhar com isso e agora já se via madura o suficiente para viver esta experiência.  Não estava apaixonada, mas já tinha o garoto certo. Seu nome não importava já que não o veria novamente.    

 Enquanto caminhava, refletia sobre tudo. Na verdade, desde criança já sabia que era diferente das outras meninas, não por condição sexual, mas por saber-se mais a frente das outras em coragem, noção de realidade e falta de medo. Como assim? Ora, Sophia nunca acreditou em Papai Noel, Fada do Dente e essas coisas todas. Também nunca teve medo do Bicho Papão e era a única que tinha coragem de pegar bichos nojentos com as próprias mãozinhas. Riu ao lembrar-se da cara de pânico das amigas quando apareceu segurando uma lagartixa pelo rabo, certa vez. 


  Mas agora já era uma mulher, sim. O rito de passagem mais importante havia acabado de acontecer naquela noite. Ah, sentia-se bem, sentia-se leve e independente! Era forte agora, nada poderia a destruir. E esse seria seu segredo. Seu e do garoto, mas não estava preocupada com ele, tinha certeza de que ele não iria falar nada para ninguém.                    

 Ainda estava excitada. Seu coração batia tão forte que parecia que só faltava explodir em seu peito. Sentia o sangue pulsando em suas veias. Sentia-se viva! Foi tão quente! A adrenalina foi a mil. O único incômodo era uma manchinha de sangue que ficou em sua roupa, apesar de ter tomado todo o cuidado para não se sujar. Mas não deveria ser um problema, ela mesma iria lavar para que sua mãe não percebesse. Caso ao contrario, certamente, estaria encrencada.               

 Finalmente chegou em casa, foi para seu quarto e deitou-se. Estava exausta. Amanhã cuidaria da roupa. A partir de amanhã seria outra pessoa!        

  Na manhã seguinte, Sophia acordou com os gritos de sua mãe. Quando desceu seus pais estavam assistindo a uma reportagem na TV 14 polegadas que ficava na cozinha. Chegou na parte em que a repórter estava quase finalizando, dizendo:                

             - E a policia ainda não sabe a identidade do garoto. Sabe somente que ele deve ter por volta de 16 anos e foi morto com cortes na garganta, nesta madrugada. A princípio não encontraram testemunhas, mas a policia ainda esta apurando os fatos...     

           - Parece que mataram um garoto aqui perto ontem, você não o conhece? Estuda na sua escola...                

Sophia não respondeu à pergunta de sua mãe.             

             - Essa Cidade está ficando cada vez mais perigosa! – seu pai pegou a chave do carro e continuou 
   
             – Vamos lá filha, eu te levo à escola. Não é bom você ficar andando por aí sozinha...

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